50 anos da Tragédia da Lagoa: o desastre que matou 35 pessoas em João Pessoa

 Neste domingo (24 de agosto de 2025), João Pessoa relembra os 50 anos da Tragédia da Lagoa, episódio que permanece como uma das maiores marcas de dor da história da capital paraibana. Em 1975, um passeio organizado pelo Exército no Parque Solon de Lucena terminou em desastre: uma embarcação superlotada, com cerca de 200 pessoas, virou no meio da lagoa.

O resultado foi devastador: 35 mortos, dos quais 29 eram crianças. O resgate ocorreu de forma caótica, com a mobilização de bombeiros, militares e voluntários. Sem coletes salva-vidas ou estrutura de segurança, a maioria das vítimas não conseguiu escapar.

Apesar da dimensão da tragédia, o caso foi abafado durante a ditadura militar. Não houve responsabilização, nem investigações públicas que apontassem culpados. Meio século depois, o episódio segue quase esquecido: não há placa, memorial ou referência oficial no local que registre o ocorrido.

Para pesquisadores e familiares, esse silêncio representa mais do que a ausência de homenagens. É um apagamento da memória coletiva e uma dificuldade de a cidade reconhecer os próprios traumas.

Lagoa, cartão-postal de João Pessoa, segue sendo espaço de lazer e de circulação, mas sem qualquer referência à tragédia. Especialistas defendem que a lembrança do episódio deveria integrar a história oficial da cidade, como forma de respeito às vítimas e de aprendizado coletivo.

Cinquenta anos depois, a Tragédia da Lagoa ainda ecoa como uma ferida aberta: um episódio que marcou profundamente João Pessoa, mas que permanece envolto em silêncio, sem reconhecimento ou memória institucional.Parque da Lagoa | Prefeitura Municipal de João Pessoa

Meio século depois

Hoje, a lagoa Solon de Lucena segue como cartão-postal de João Pessoa, requalificada com jardins, pista de caminhada e brinquedos que atraem famílias nos fins de semana. Mas, apesar do impacto da tragédia de 1975, não há no local qualquer referência às vítimas — nenhuma placa, monumento ou homenagem.

Para o professor Ângelo Emílio da Silva Pessoa, da Universidade Federal da Paraíba, essa omissão precisa ser corrigida. Ele defende a criação de um memorial, não apenas por dever histórico, mas também por razões pessoais: aos oito anos, só não embarcou na balsa porque sua mãe considerou inseguro.

“Eu queria muito fazer o passeio, mas minha mãe não permitiu. Provavelmente eu teria morrido”, contou ao jornal A União.

Ângelo argumenta que preservar a memória é um compromisso cívico. Segundo ele, a tragédia já vem sendo esquecida, sobretudo pelas gerações mais jovens, restando apenas os relatos dos frequentadores antigos.

Um deles, hoje funcionário da limpeza do parque, recorda com dor:
“Eu perdi um colega de escola naquele dia. Só não embarquei porque não consegui lugar. Ainda vejo a cena das pessoas se debatendo, pedindo ajuda. Tive pesadelos por muito tempo. Minha mãe precisava me acudir à noite”, relatou.

Cinquenta anos depois, as lembranças ainda assombram quem presenciou o desastre que marcou para sempre a história da Paraíba — mas que permanece sem qualquer memória oficial na paisagem da lagoa.

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