Saiba qual é o futuro do sexo pós pandemia?

Por que fazemos sexo? Muitas respostas provavelmente vão mencionar a reprodução da espécie. O sexo é a principal forma de gerar um bebê.

Mas e se deixarmos de lado a questão da procriação?

Desde o nascimento do primeiro “bebê de proveta” do mundo em 1978, cerca de 8 milhões de pessoas nasceram de fertilização in vitro. E esse número pode aumentar muito no futuro, à medida que as ferramentas para identificar riscos genéticos em embriões se tornam mais sofisticadas.

Tudo o que você precisa saber sobre fazer sexo em meio à pandemia do coronavírus
“Minha previsão mais consolidada é que, no futuro, as pessoas ainda farão sexo –mas não tanto com o objetivo de gerar bebês”, diz Henry T. Greely, autor do livro “The End of Sex and the Future of Human Reproduction” (O Fim do Sexo e o Futuro da Reprodução Humana, em tradução livre).

“Daqui a 20 a 40 anos, a maioria das pessoas com um bom plano de saúde no mundo todo escolherá engravidar em um laboratório.”

O livro de Greely analisa alguns desafios legais e éticos em que a ciência do diagnóstico genético pré-implantacional (PGD, na sigla em inglês) esbarra.

“Como na maioria das coisas, haverá uma quantidade razoável de reações viscerais negativas inicialmente, mas com o passar do tempo, à medida que as crianças [nascidas via PGD] provarem não ter um rabo e duas cabeças”, a população não apenas vai tolerar, como vai preferir se reproduzir não sexualmente.

E nesse mundo –em que os bebês são criados em laboratórios; em que apenas uma minoria de mulheres escolhe engravidar por relação sexual; em que a ética sexual não tem nada a ver com a possibilidade de procriação– qual o significado do sexo?

“Para que serve o sexo?” Esta é uma pergunta que o pesquisador David Halperin faz em um artigo provocante de mesmo nome. O sexo, nós pensamos, deve sempre ter um propósito. E esse raciocínio não é necessariamente ruim.

Afinal de contas, ser humano significa ser intelectualmente e emocionalmente curioso. Fazer sexo e teorizar sobre o que isso pode significar é muito natural, uma vez que somos animais que passam grande parte do tempo analisando e criticando tudo.

Do ponto de vista biológico, há um motivo óbvio para o sexo entre seres humanos. Fazemos sexo porque isso satisfaz nossos impulsos biológicos, incluindo os impulsos necessários para procriar e se relacionar.

Na verdade, essas são as duas razões que a tradição ocidental nos ensina, ambas organizadas em torno de um propósito ou objetivo final.

Como escrevi em um artigo anterior, foram os estoicos que, na tentativa de coibir a autoindulgência, tentaram dar um significado ao sexo: ceder ao prazer sexual é legítimo desde que fosse com o objetivo de gerar bebês.

Esse princípio ético foi levado para a tradição cristã, notoriamente por meio de Santo Agostinho, e continua a exercer enorme influência no Ocidente. E parte da premissa de que o sexo é ético quando praticado primeiramente para a procriação.

Para esclarecer, embora seja apresentada como uma ética cristã, sua origem está em outros lugares. Na verdade, o livro bíblico “Cântico dos Cânticos de Salomão” celebra o sexo apaixonado, erótico e selvagem em seus próprios termos, entre dois amantes –e não entre marido e mulher, como mais tarde os cristãos vieram a interpretar erroneamente o poema.

E, segundo Halperin, a outra razão importante para o sexo provém de Aristóteles. Na obra “Primeiros Analíticos”, do século 4 a.C., o filósofo grego apresenta o seguinte silogismo:

“Ser amado, então, é preferível à relação sexual, de acordo com a natureza do desejo erótico. O desejo erótico, então, é mais um desejo de amor do que de relações sexuais. Se é sobretudo por isso, esse também é o seu fim. Ou a relação sexual, então, não é absolutamente um fim, ou é para o bem de ser amado.”

Para Aristóteles, como explica Halperin, “o amor é o propósito do desejo erótico”.

“Não é o amor que visa o sexo como objetivo, é o sexo que tem como objetivo o amor”, completa.
A verdadeira razão pela qual fazemos sexo, de acordo com Aristóteles, não é porque queremos fazer sexo, mas porque queremos amar e ser amados. O sexo é sobre algo superior, algo mais nobre.

Como muitas pessoas, Aristóteles supõe que amor e sexo andam de mãos dadas –mas ele nunca procura demonstrar a solidez dessa suposição.

O que ele demonstra, no entanto, pelo menos na interpretação de Halperin, é que “o sexo não é o objetivo final do desejo erótico”.

E se esse for o caso, Halperin acredita que a pergunta mais interessante a se fazer não é sobre a relação entre amor e sexo, mas a surpreendente relação entre sexo e desejo erótico.

Se Aristóteles está correto, o sexo não tem propósito erótico –seu verdadeiro objetivo está em outro lugar. Em resumo, não fazemos sexo por causa do sexo propriamente dito.

Por que fazemos sexo, então? Para procriar, com certeza. Para se conectar com o outro, também. Mas essas são apenas duas de muitas respostas possíveis. Como muitos fenômenos culturais, o sexo ultrapassa seu porquê.

Pense na comida. Do ponto de vista da sobrevivência, faz sentido que a gente coma e que comamos juntos –afinal, era vantajoso para nossos ancestrais juntar seus recursos (mais para o grupo significa mais para mim).

Mas quando olhamos para a cultura gastronômica contemporânea –hambúrgueres folheados a ouro, perfis de comida no Instagram, canais de culinária, happy hours com colegas de trabalho, jantares comunitários promovidos por igrejas– fica cada vez mais difícil definir o objetivo exato do nosso relacionamento com a comida.

A diferença entre nós e muitos animais não racionais é que regularmente temos prazer em fazer coisas inúteis. E nós fazemos simplesmente porque gostamos, porque participar de tais atividades nos dá prazer –do tipo que nos distrai de qualquer pergunta sobre porquês.

É possível, escreve Halperin, que “o ato sexual faça sentido apenas quando não faz sentido”.
Talvez seja hora de admitir que o prazer é a principal razão pela qual a maioria de nós –incluindo os mais religiosos– faz sexo.

Para ser honesto, há geralmente um sentido em fazer sexo, caso contrário estaríamos fazendo outra coisa. Mas, nas últimas décadas, desafiamos a ideia de que o sexo deveria ser feito apenas para fins específicos.

A pílula anticoncepcional foi revolucionária nesse aspecto, mas deixou uma parcela da sociedade assustada.

“Todo mundo sabe o que é a pílula. É um objeto pequeno –mas seu potencial efeito sobre a sociedade é muito mais devastador do que a bomba nuclear”, escreveu a autora Pearl Buck em artigo publicado na revista Readers Digest de 1968.

Como, aliás, muitas ideias conservadoras, o argumento de Buck parece ser baseado na histeria de que a atividade sexual sem propósito significaria o fim da civilização. Para essas pessoas, a chamada revolução sexual é responsável pelas visões modernas liberais sobre sexo.

Embora a revolução sexual seja frequentemente usada como um bicho-papão para encerrar, em vez de contribuir para debates importantes, pesquisadores observaram mudanças radicais na forma que o sexo era visto pelas pessoas a partir dos anos 1960.

Em uma pesquisa de 2015, Jean M. Twenge, professor de psicologia da Universidade Estadual de San Diego, nos EUA, analisou o comportamento de americanos em relação ao sexo entre as décadas de 1970 e 2010.

“Entre as décadas de 1970 e 2010, os americanos se tornaram mais receptivos ao sexo não conjugal”, concluiu ele.

Em sintonia com pesquisas anteriores que mostraram um declínio na orientação religiosa e um aumento nos traços individualistas, um número maior de americanos acredita que a sexualidade não precisa ser restringida por convenções sociais.

As novas gerações também estão agindo com base nessa crença – elas têm um número significativamente maior de parceiros sexuais e fazem mais sexo casual do que os nascidos no início do século 20.

Twenge ressalta que, dentro de uma população, os comportamentos ainda podem variar por diversos motivos (dependendo da idade, raça, sexo, crenças religiosas etc.), mas a pesquisa mostra que “ocorreram mudanças geracionais significativas na atitude e no comportamento sexual” ao longo do tempo.

Nossa visão sobre sexo é, portanto, em grande parte produto da nossa localização em determinado espaço e tempo. Nossa ética sexual não é atemporal: ela evoluiu, e vai continuar evoluindo. Talvez muito mais rápido do que estamos preparados.

Como todo fenômeno humano, a atividade sexual veio de algum lugar. Chegamos às nossas práticas, comportamentos e éticas sexuais por meio de uma longa e tortuosa jornada desde os animais que nos precederam –uma jornada que remonta ao início da vida no universo.

Mas, mesmo se nos concentrarmos em nossa espécie, vamos encontrar muitas evidências de que alguns conceitos tradicionais sobre sexo são menos naturais do que pensávamos.

Uma vez, ouvi um pastor evangélico americano condenar a homossexualidade, o que para a congregação dele parecia uma piada engraçada.

“Eu não deveria ter que lembrar a vocês que dois homens não deveriam ficar juntos. Até os animais do curral sabem disso!”

O que o pastor estava argumentando era que a homossexualidade não é natural –e que, por isso, os animais não a praticavam.

O que ele não sabe, no entanto, é que o comportamento homossexual é bastante comum no reino animal. O macaco-japonês, a mosca-das-frutas, o besouro-castanho, o albatroz-de-laysan, o golfinho-nariz-de-garrafa –são apenas algumas das mais de 500 espécies que desenvolvem relações homossexuais.

Certamente, os animais não se identificam como gays, tampouco se identificam como não-gays. O que nos leva a um fato extremamente óbvio, mas raramente contemplado –que os seres humanos, pelo menos no último século, se definiram com base no tipo de sexo que praticam.

A heterossexualidade começou a ter um significado; e esse significado foi construído, especificamente, em oposição à homossexualidade. Se você quer entender que significado é esse, comece se fazendo a mesma pergunta que Jonathan Ned Katz levanta no livro “A Invenção da Heterossexualidade”: “Que interesses foram atendidos pela divisão do mundo em heterossexuais e homossexuais?”.

Qualquer pessoa que foi provocada na infância, como eu, por parecer gay sabe que essa distinção não foi feita com a melhor das intenções.

O interessante é pensar por quanto tempo essa divisão hétero/homo vai continuar se perpetuando. Uma pesquisa do instituto YouGov de 2019 mostrou que quase quatro em cada dez millennials não se identificam como “completamente heterossexuais”.

Isso possivelmente tem menos a ver com mudanças na orientação sexual do que com mudanças no significado dessa orientação. Resumindo, definir a identidade de alguém com base na atividade sexual é provavelmente menos importante hoje do que há três décadas.

Em um mundo em que a atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo é amplamente aceita como uma variação natural e saudável da sexualidade humana, não é mais tão importante formar uma identidade pública baseada em práticas sexuais.

Talvez, quanto mais separarmos o sexo do seu propósito, menos gente vai pensar sobre o que o ato sexual pode significar e como pode contribuir para a identidade de um indivíduo. O propósito do sexo não é uma questão para a cultura gay, assim como é para a cultura heterossexual.

Parte disso é situacional: sem a perspectiva da gravidez biológica e (até recentemente) do casamento, os gays são livres para fazer sexo com o único objetivo de fazer sexo. Não estou sugerindo que o sexo gay não tenha um propósito: ele pode ter muitos propósitos, incluindo, é claro, o amor. Mas a cultura gay, historicamente, se mostrou mais aberta à ideia de que nem sempre precisa haver um propósito no sexo.

Essa postura, é claro, parece se opor aos valores morais e concepções culturais sobre sexo há tanto tempo em voga, o que talvez possa explicar a discriminação histórica contra os gays.

Como muitas crianças, fui ensinado a julgar a ética sexual sob uma única perspectiva –se a relação sexual tinha acontecido dentro de um relacionamento sério e monogâmico (geralmente, no casamento). Mas, finalmente, comecei a questionar esse padrão –principalmente porque as mesmas pessoas que me ensinaram isso também me ensinaram que os seres humanos foram criados por Deus alguns milhares de anos atrás.

Se o conhecimento de biologia deles era tão fraco, então por que dar atenção ao que eles tinham a dizer sobre sexo, que é um fenômeno biológico? Percebi que o que eles acreditavam ser ético não fazia sentido para os gays, que não são capazes de conceber filhos por meio de uma união sexual. Parecia hipócrita, na melhor das hipóteses, e cruel, na pior das hipóteses, advogar por um padrão sexual que impeça uma parcela considerável da população de alcançá-lo.

A maioria dos atos sexuais heterossexuais não resulta no nascimento de um bebê, e, por alguma razão, o sexo sem procriação nunca é classificado como antinatural, da maneira como o sexo homossexual sem procriação costuma ser condenado.

Felizmente, a resistência à homossexualidade está em declínio. Um estudo conduzido pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), nos EUA, analisou a mudança de atitude das pessoas em 141 países –e constatou que em 80 países (57%) houve um aumento na aceitação de pessoas LGBT entre os anos de 1981 e 2014.
Mas nem tudo são flores: enquanto os pesquisadores descobriram que os países tradicionalmente mais abertos (Islândia, Holanda, Suécia, Dinamarca, Andorra e Noruega) se tornaram mais tolerantes ao longo do tempo, os países mais fechados (Azerbaijão, Bangladesh, Geórgia e Gana) se tornaram ainda menos tolerantes.

Embora essas atitudes antigays não devam ser ignoradas, é importante lembrar que a maioria dos países estudados apresentou uma tolerância maior à homossexualidade.

Há muitas razões para crer em uma ampla aceitação da homossexualidade, incluindo a cobertura positiva da imprensa sobre questões LGBT, o apoio público a organizações médicas e psicológicas e o fato de que a maioria das pessoas conhece alguém LGBT (é mais difícil acreditar que os gays querem destruir a civilização quando eles são seu professor de piano, o florista, o padre ou o bombeiro local).

É claro que os gays nem sempre são exemplos perfeitos de ética sexual –me refiro aqui aos homens, grupo com o qual estou mais familiarizado. Na comunidade masculina gay, há um culto a homens com tipos específicos de corpo (musculosos e magros, por exemplo), o que passa a mensagem de que aqueles que não atendem a esse padrão estético (a maioria de nós) são menos merecedores ou dignos do que aqueles que atendem.

A tecnologia, por meio de aplicativos como o Grindr (plataforma que promove encontros gays), tornou esse padrão excludente ainda mais evidente –nesses aplicativos, os homens são reduzidos a imagens de partes do seu corpo, e os que não são considerados objeto de desejo são rapidamente bloqueados.

“Nada de gordos ou afeminados” é, para nossa vergonha, um bordão que pode ser ouvido com bastante frequência nesses aplicativos, o que significa que ainda temos que refletir muito quando se trata da nossa ética sexual.

Mas, apesar dessas lacunas, é a cultura gay que, durante todo esse tempo, tem oferecido ao mundo novas maneiras de pensar sobre ética sexual –maneiras que não envolvem procriação, casamento, amor ou sequer relacionamentos sérios e monogâmicos.

Basta considerar uma pesquisa de 2005 que mostrou que 40% dos casais gays apoiam relacionamentos abertos, em comparação com 5% dos casais heterossexuais. Se esse tipo de experiência sexual realmente se tornar a norma –como algumas pessoas sugerem–, serão os gays que terão aberto essa porta.

Suponho que alguns heterossexuais podem se ofender com essas ideias, mas é difícil fazer de conta que a cultura heterossexual tem o papel de paladino da moral em questões sexuais.

A cultura popular está repleta de casos de relacionamentos heterossexuais problemáticos. A ética sexual heterossexual “tradicional” –que, como os historiadores sustentam, foi criada no século 19– foi testada e considerada a desejar.

Ao longo dos anos, vários futuristas previram como será o futuro do sexo. Da pornografia a encontros virtuais (em que, a distância, as pessoas chegam ao orgasmo por meio da tecnologia háptica, que permite transmitir sensações táteis), o futuro do sexo será mais digital, mais sintético e menos orgânico.
Mas, embora o futuro traga, sem dúvida, grandes mudanças tecnológicas, também devemos considerar que algumas das principais mudanças vão envolver novas concepções.

Haverá, por exemplo, novos conceitos sobre reprodução. Desde 1978, mais de oito milhões de bebês nasceram por meio de fertilização in vitro. A previsão é que esse número aumente drasticamente à medida que essa tecnologia se torna mais acessível e onipresente. O controle da natalidade e os métodos contraceptivos também ajudaram a separar o sexo da procriação em nosso imaginário cultural.

Se as previsões de Greely sobre o diagnóstico genético pré-implantacional (PGD) estiverem corretas, em algum momento nas próximas quatro décadas, haverá uma mudança radical em relação a como nascem os bebês. O PGD se tornará acessível graças ao desenvolvimento da genética e das pesquisas com células-tronco.

“Um casal que quer ter filhos visitará uma clínica –ele deixará uma amostra de esperma; ela deixará uma amostra de pele. Uma ou duas semanas depois, os futuros pais receberão informações sobre cem embriões criados a partir de suas células, dizendo a eles o que os genomas dos embriões preveem para o futuro deles… Depois, selecionarão que embriões serão transferidos para o útero para uma possível gravidez e nascimento”, resumiu Greely no jornal britânico The Guardian.

As pessoas podem se incomodar com a ideia de “bebês projetados”, mas quando lembramos que a maioria das pessoas que tem filhos escolheu uma a outra com base em certas características, sabendo muito bem que essas características provavelmente seriam transmitidas aos seus filhos, fica mais difícil fazer uma separação entre as tecnologias que Greely estuda e a reprodução padrão por sexo.

Haverá novos conceitos sobre monogamia e relacionamento sério. Ter um parceiro sexual por toda a vida adulta parece uma perspectiva mais facilmente alcançada quando a expectativa de vida é menor.

Mas a expectativa de vida da população tem aumentado. De 1960 a 2017, a média subiu 20 anos. E, até 2040, a previsão é que aumente mais quatro anos –número considerado conservador para alguns futuristas. Steven Austad, por exemplo, acredita que o primeiro homem a completar 150 anos nasceu antes de 2001.

Diante desta perspectiva, quão realista é exigir que alguém fique restrito ao mesmo parceiro sexual por 130 anos? Mas nem precisaríamos olhar tão à frente.

Mesmo agora, as taxas de divórcio e recasamento não param de crescer. De acordo com uma pesquisa do Pew Research Center, de 2013, quatro em cada dez casamentos americanos envolvem o recasamento de pelo menos um dos noivos. Talvez, com uma expectativa de vida maior, “até que a morte nos separe” simplesmente deixe de ser nosso objetivo.

Haverá ainda novos conceitos sobre identidade sexual. Se o sexo deixa de significar algo além de sexo; se as crianças não são provocadas por terem uma orientação sexual “diferente”; se a reprodução acontece em um laboratório; pode ser que os futuros seres humanos se sintam à vontade para fazer sexo com homens e mulheres quando der vontade. Ou pode ser que se sintam confortáveis em cultivar seus próprios desejos sexuais.

Será que o conceito de orientação e identidade sexual está vinculado a uma noção arcaica de reprodução? No futuro, palavras como “heterossexual” e “homossexual” serão ouvidas apenas na aula de história? Esses conceitos vão virar cada vez mais uma tendência –graças, em grande parte, à comunidade LGBT que, nas últimas décadas, tem convidado a cultura dominante a repensar sua ética sexual.

Alguns anos atrás, em uma conferência, ouvi a filósofa Judith Butler, referência em estudos de gênero, dizer: “Talvez a coisa mais queer em relação ao sexo seja apenas desfrutá-lo”. Eu não concordei na época, mas agora consigo entender.

Talvez o sexo sirva sempre para algo –mas para alguém, e não para alguma coisa. E seu propósito seja servir às pessoas que fazem sexo por prazer. O significado do sexo não vai existir para além da empatia e o prazer que ele proporciona às pessoas –o prazer da sensação física, do vínculo social, da experimentação. No futuro, o significado do sexo será apenas sexo.

BBC NEWS BRASIL/Folha de S. Paulo

Postar um comentário

0 Comentários