Casal fala sobre desafios de empreender junto durante pandemia na Paraíba


Tereza e César abriram uma sorveteria quatro dias antes do decreto que determinou fechamento do comércio na capital. Veja dicas de como equilibrar negócios e amor.

 Tereza Freitas e César Oliveira moram em João Pessoa e estão juntos há pouco mais de um ano e dois meses. O casal de namorados sempre pensou em empreender juntos desde o começo da relação, mas não imaginavam que o sonho iria sair do papel exatamente no meio de uma pandemia. Os dois, que têm 29 e 30 anos, respectivamente, são donos de uma sorveteria no bairro de Manaíra e nesta sexta-feira (12), Dia dos Namorados, falam sobre os desafios de empreender juntos.

“O namoro começou primeiro, mas desde o início a gente meio que trocava figurinhas sobre a vontade de ter um negócio próprio e isso meio que foi fomentado entre os dois desde o comecinho, como se nossas personalidades estivessem alinhadas neste sentido”, diz Tereza.

Ela é advogada, atuando como autônoma em casos individuais. César já tinha experiência no negócio, uma vez que os pais dele são fabricantes de sorvetes artesanais e ele já trabalhava na administração da sorveteria dos pais.

“Apesar dele ter essa experiência, a gente queria abrir um negócio nosso. Fazíamos estudos de viabilidade, organizava as contas para ver se dava certo. Já tínhamos um ponto em vista, onde atualmente funciona a sorveteria, sonhávamos em instalar naquele local e no dia que vimos que estava disponível, não pensamos duas vezes, um acreditou no outro e fomos juntos para fechar o aluguel do espaço”, conta a jovem.

O sonho do casal ficou pronto este ano, mas eles não contavam que a pandemia da Covid-19 iria intervir para mudar a rotina planejada desde 2019. “A gente abriu as portas quatro dias antes de ter que fechar. Mesmo já sabendo do decreto que determinou o fechamento do comércio a partir da segunda-feira, ainda assim abrimos no final de semana porque a gente batalhou muito para que esse projeto saísse do papel. Foi tanto estresse que queríamos ter esse gostinho de, mesmo que por pouco tempo, abrir as portas e atender as pessoas lá”, diz Tereza.

Enquanto está em vigor os decretos estadual e municipal que determinam o fechamento das atividades não essenciais, Tereza e César tocam o negócio pela internet, com vendas por delivery. Na hora de operar a empresa, o casal pensou nas principais aptidões de cada um antes de delegar as funções.

“Tereza fica com a parte de divulgação, de relação com clientes e com o marketing. Eu fico mais na parte administrativa e financeira”, conta César. Os pais dele fabricam o sorvete que é vendido pelos dois.

Negócios e relacionamento
Por causa da pandemia e do negócio, o casal acabou se aproximando ainda mais este ano. Os dois moram em casas separadas, mas desde o início do isolamento social, têm feito a quarentena juntos.

“Às vezes estou na casa dele, as vezes ele vem para a minha. Fora isso, a gente só sai para ir à sorveteria. Eu estou trabalhando como advogada à distância, fazendo atendimento virtual aos clientes e ele trabalha em tempo integral só na sorveteria”, conta Tereza.

Para César, o maior desafio, agora que estão com a empresa aberta, é não deixar a vida de empresários interferir no relacionamento amoroso. “É muito difícil a gente não deixar que um problema da relação interfira no negócio ou um problema da sorveteria interfira em casa, mas a gente se esforça ao máximo para não discutir os problemas fora do ambiente onde ele foi gerado. Lazer é lazer, relação é relação e trabalho é trabalho, vamos tentando equilibrar”, diz.

Já Tereza acredita que lidar com os problemas do negócio ajudou a construir uma relação mais sólida com o namorado. “Foi uma prova de fogo para a relação abrir esta empresa, porque a gente tinha menos de um ano de namoro. A gente teve problemas na criação do negócio e precisamos unir forças para resolver. Esse aprendizado do negócio eu trouxe para a relação. Foi por causa da sorveteria que eu pude ver que se a gente tiver um problema, estaremos juntos para resolver. Hoje eu sei que a gente tá junto e que podemos contar um com o outro para qualquer coisa”, conta a empreendedora.

Como superar os desafios de empreender em casal
 Madalena Arruda, que é gerente regional do Sebrae em Monteiro, na Paraíba, explica o maior risco (ou o maior desafio) para casais que empreendem juntos é como lidar com a dupla sociedade.

Segundo ela, é preciso que os casais tenham equilíbrio emocional para gerir os negócios e tocar a vida pessoal sem deixar que um interfira no outro.

“O risco maior, se a pessoa não souber controlar as coisas, é ou o negócio quebrar ou haver uma separação na relação”, explica Madalena.

 A gerente conta que para quem quer empreender em dupla, é preciso primeiro planejar bastante. “Esta etapa é essencial. O casal tem que traçar uma meta de onde quer chegar antes sequer de começar tudo. Neste plano tem que ter a divisão das funções, também como vai ser a divisão dos lucros da empresa. Tudo precisa estar bem organizado para que ao lançar o projeto, não fique nada que possa gerar um estresse”, diz.

Saber separar a vida de empresário da vida à dois também é importante, segundo Madalena. “É preciso deixar os assuntos da empresa na empresa e os assuntos de casa, em casa. Separar momentos de lazer, em que os dois possam curtir a companhia um do outro, também é importante. Uma dica é trabalhar bem a equipe da empresa para que o casal possa tirar férias juntos, por exemplo”, comenta.

Por fim, a gerente diz que o mais importante, tanto na relação como na empresa, é que exista o amor.
“É preciso ter amor ao negócio, amor à(o) companheira(o) e também amor ao sonho que foi pensado junto. O casal precisa se lembrar sempre dos objetivos que eles querem tanto na vida pessoal como na vida como empreendedores”, completa.

 Tereza e César já sabem onde querem chegar na relação, que é um futuro cada vez mais unido em busca de formar uma família. Quanto à empresa, apesar dos objetivos maiores, o maior sonho agora é apenas um: abrir, de fato, a sorveteria.

“Nosso sonho grande é o de crescer, abrir outras unidades e tudo o mais. Porém, a curto prazo, a gente queria mesmo era que a pandemia passasse, para que a gente pudesse reabrir o negócio, receber clientes, ter o contato físico. Saber que todo o projeto que a gente fez, as dores de cabeça, valeram à pena”, completa Tereza.

 G1 Paraíba

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