Preço da carne cai em janeiro, com tradicional queda no consumo, mas ainda está alto

O preço das carnes caiu em janeiro na comparação com a disparada de novembro e dezembro, de acordo com números de consultorias e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP (Cepea). Porém, os valores seguem maiores que os praticados há um ano.

Em São Paulo, dos 20 cortes mais populares, de acordo com a Scot Consultoria, quem teve a maior queda foi o filé mignon sem cordão: queda de 8,3%. Porém alguns cortes, como a costela, subiram. Na média, a retração é de 1%.

"Janeiro foi marcado por preços transitando entre a sustentação e leves retrações (...) O varejista teve dificuldade para impor preços maiores ao consumidor final, já que, tipicamente, esse período do ano é de menor consumo", explicou a consultoria em relatório.

O analista de mercado Leandro Bovo afirma que a queda esperada para o mês se confirmou sem surpresas. Segundo ele, a demanda chinesa impede que os valores praticados antes da disparada voltem.

Porém, as vendas para o exterior desaceleraram em relação ao último trimestre de 2019. Em janeiro, a expectativa é que as exportações de carne bovina caiam mais de 10% na comparação com dezembro.

"O consumidor final já sente um efeito de melhora no preço da carne bovina, porém ainda fica o incomodo por estar em patamares acima do que era negociado antes do início do movimento de alta", explica Bovo, da Radar Investimentos.

No mesmo comparativo de valores dos cortes mais vendidos, a diferença média de janeiro de 2020 para janeiro de 2019 é de mais de 17%, que é uma variação considerada dentro do esperado pelas exportações aquecidas e reajustes que eram esperados na atividade.

Desvalorização é maior no campo
Se os preços na cidade ainda estão resistindo a cair, no campo, pecuaristas e frigoríficos já sentem efeitos maiores.

O preço pago pela arroba (15 kg) do boi gordo para o criador caiu 17,5% na comparação com o valor recorde registrado no fim de novembro (R$ 231,35), segundo o indicador de preços do Cepea para São Paulo.

Porém, quando comparamos com um ano atrás, a alta é de 19,6%. Vilã da inflação de 2019, a carne bovina chegou a subir 32% no ano.

Na indústria, o movimento foi ainda mais intenso. Segundo o centro de estudos da USP, o preço da carcaça do boi saiu de R$ 16,46 por quilo para cerca de R$ 12,50 por quilo, uma queda de 25%.

Omelete mais cara
O ovo continua em plena alta desde o final do ano passado. Em um ano, a caixa com 30 dúzias vendida na Grande São Paulo subiu de R$ 72,94 para R$ 96,32, alta de 32% e valor recorde.

Nem mesmo em dezembro, momento de maior pressão de preços, o ovo ficou tão caro. A máxima do período foi de R$ 96,14.

A analista de mercado do Cepea Juliana Ferraz explica que os valores são maiores do que os praticados na Quaresma, período em que a procura é tradicionalmente maior.

"Nós vimos 3 movimentos que explica esta alta: o preço do milho que subiu, o descarte de aves para equilibrar a oferta de ovos e o fim das férias escolares, onde muitas escolas compram ovos para as merendas escolares", conta Juliana.

No campo, o efeito foi o mesmo. O preço negociado na principal região produtora do país, Bastos (SP), é de R$ 90,74, alta de 35,8% em um ano. O maior valor até então tinha sido de R$ 89,86 na segunda quinzena de dezembro de 2019.

Em 2019, o Brasil bateu recorde no consumo de ovos e a alta no preço das carnes foi um dos motivos para o resultado. "A gente sempre viu o ovo como uma proteína complementar na refeição do brasileiro, mas agora vimos que houve casos em que se trocou (a carne pelo ovo)", diz a analista do Cepea.

Frango e porco sofrem com o milho
No caso das carnes de frango e porco, que são mais procuradas em momentos de alta da carne bovina, a queda também está acontecendo, muito em função da desaceleração das exportações neste primeiro mês de 2020.

Mas a desvalorização poderia ser maior se o custo da ração desses animais tivesse mais barata. O maior exemplo é o milho, que subiu mais de 30% em um ano por causa das exportações recordes do setor. Esse insumo tem peso maior na criação de frango.

Já os suínos caíram, em média, mais de 10%, com destaque para São Paulo, onde a queda mensal foi de 16,8%.

"Os fatores para a alta do preço das proteínas persistem: aumento do custo de alimentação pela alta no preço do milho e a demanda deve continuar aquecida na exportação. Sem contar a alta recente do dólar", afirma Leandro Bovo.

Como será daqui pra frente?
Para fevereiro, a previsão é que o carnaval faça a demanda e o preço das proteínas animais aumentarem, o que pode tirar todo alívio conquistado neste mês.

"É provável que o mercado da carne bovina ganhe fôlego. Apesar de fevereiro não ser conhecido como um mês de consumo forte, o feriado prolongado do Carnaval traz impactos positivos sobre o consumo", afirma a Scot Consultoria.

"A expectativa é de subir ou manutenção (dos preços). Os principais insumos estão altos. Se os preços dessas carnes começarem a recuar muito a atividade fica inviável" explica Juliana Ferraz, do Cepea.

Outro fator que começa a entrar no radar dos especialistas são os efeitos do coronavírus para as exportações de carnes. A avaliação preliminar é de que a doença possa fazer a China comprar ainda mais no mercado internacional, o que pode favorecer as indústrias brasileiras.

“O coronavírus da China pode ter impacto positivo para as exportações de proteínas brasileiras, já que a China está fazendo uma grande campanha para restringir o consumo de animais silvestres ou carnes exóticas sem controle sanitário”, diz Leandro Bovo.

"Se diminuir o consumo dessas proteínas alternativas, teoricamente, teria que aumentar o das proteínas convencionais, aumentando a das importações", completa.

A consultoria americana FCStone vai na mesma linha, afirmando que, em um primeiro momento, o apetite chinês pode diminuir, mas que, após esse período de cautela, a procura pode aumentar.

“A China vive um momento de dependência do mercado externo para abastecer o seu consumo doméstico. Somado a isso, a valorização do dólar, bem como a perda de efetivo bovino na Austrália, diante dos incêndios recentes, favorece a competitividade do produto brasileiro”, explica a consultoria.

Diário da Paraíba com Valor Econômico 

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